quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Entrevista com Bárbara Dias


Bárbara Dias Lage leciona cursos de extensão, desenvolvimento de coleção, desenho de moda e ministra palestras sobre moda e artesanato pelo SEBRAE.
Por Flávia Pinheiro e Roberta Celestino

RT: Como tudo começou? Você é graduada em moda?
Barbara: Graduei-me na escola de Design de Produtos da UEMG e desde que eu entrei em Design de Produtos, tinha o propósito de trabalhar com Moda; então voltei todos os meus projetos para essa área. Depois que formei, eu e mais duas amigas resolvemos abrir uma empresa de Moda para trabalhar com esse segmento, mas durante todo processo da graduação me envolvi com projetos de extensão, de pesquisa, para que me aproximasse dessa área, e artesanato que é uma área que eu gosto bastante.

RT: E como surgiu a idéia da Invoga (empresa da qual é sócio-proprietária)?
Barbara: Foi essa idéia de trabalhar com Moda, eu e mais duas amigas, cada uma tinha uma marca; eu de acessórios, uma das minhas sócias também de acessórios e a outra de roupas; mas a gente já sabia o que queria, não queríamos trabalhar para alguém e sim ter o nosso próprio negócio e tentar vingar nesse mercado. Todo mundo falava que era um mercado difícil, fechado, mas nós sempre tivemos o espírito empreendedor e aí surgiu a empresa.

RT: Qual o objetivo da Invoga em relação aos clientes?
Barbara: O nosso propósito é desenvolver todo o projeto de moda pra ele; nós não falamos que a Invoga é uma empresa de design de produtos ou design de ambientes ou design gráfico, nós trabalhamos com design integrado e o direcionamento para o setor da moda. Então, nós queremos fazer com que o cliente consiga desenvolver todo seu serviço com a empresa, porque nós percebemos que a problemática do desenvolvimento do serviço é cada hora desenvolver com uma pessoa, faz o catálogo aqui, o desenvolvimento de coleção ali, o site em outro lugar, então acaba que não tem uma unidade. Nós queremos que o cliente venha até nós, desenvolva uma coleção e então oferecemos para ele também o catálogo, o site, a consultoria no que eles precisarem, uniforme pra empresa, etc. ficando tudo com uma unidade.

RT: Como é o processo de escolha de seus temas para suas coleções?
Barbara: Envolvem várias coisas, primeiro fazemos a pesquisa de tendências, a pesquisa da empresa e também olhamos se o conceito tem a ver com a nossa vivência, a nossa bagagem. Podem ser vários temas, mas tem que estar linkados com a tendência, com a característica da marca e com uma experiência passada que já temos na nossa bagagem.

RT: De que maneira a Invoga exterioriza para as pessoas este desejo de criação de valor através do design?
Barbara: Para todo lugar que nós trabalhamos sempre tentamos passar essa imagem, passar o conhecimento da marca; nós visitamos alguns potenciais clientes para apresentar a empresa e tentamos fazê-la o mais conhecida possível no nosso cenário, que é o de Belo Horizonte. Também temos o blog (http://invoga-designparamoda.blogspot.com/) onde escrevemos sobre nossos valores, o que nós pensamos; algumas matérias que achamos interessante e divulgamos em várias mídias, como twitter e Orkut.

RT: Como que vocês procuram atrair clientes e qual a atitude para fidelizar o cliente?
Barbara: Fazemos a visita para os clientes potenciais e com o trabalho bem feito, um vai indicando para o outro, acho que isso já cria um laço com o cliente, cria aquela confiança para poder indicar pro outro, queremos oferecer sempre um serviço diferenciado, fazer com que ele tenha não só o que ele espera, mas algo a mais, que é aquilo que vai encantar. E criar uma relação pessoal, os projetos são longos, nós vamos desenvolvendo várias coisas, e então tentamos aproximar e entender mais da empresa, do que eles querem.

RT: Existe alguém em quem você se espelha pra realizar o seu trabalho? Se existe, por quê?
Barbara: Sempre leio um livro do SEBRAE, “10 anos de casos de sucesso”, então sempre vejo esse espírito empreendedor, coisa que eu admiro bastante, saber que no começo é realmente difícil. São vários casos de empresas e pessoas que iniciaram nesse ramo, então eles sempre contam que é difícil inserir, que não pode desistir no primeiro passo, tem que persistir e saber que às vezes o caminho é das pedras mesmo e saber que nada é fácil para se ter uma carreira consolidada, são de seis a dez anos pra você conseguir aquela estabilidade no mercado. Então é nisso que eu penso, nesses casos de pessoas que já passaram por isso.

RT: Há limites para a criação? Algum ponto onde deixa de ser criação pra virar loucura?
Barbara: Não podemos limitar a criação, senão não temos a inovação. No brainstorm nós não podemos limitar nada, o primeiro passo é pensar em tudo e depois fazer uma peneira daquelas idéias que podem ser realmente boas, porque há uma diferença entre inovação e invenção; inovação é aquilo que vai entrar no mercado, então não se pode fazer essa limitação no processo criativo, que é ilimitado.

RT: Para você, o que é loucura?
Barbara: Uma amiga minha já trabalhou com deficientes mentais e eu vi cada criação maravilhosa, então eu acho que eles não têm essa limitação no pensamento, no processo criativo, não tem nenhum vetor; eles extrapolam a criação e têm muitas coisas bem bacanas.

RT: Qual sua opinião sobre a moda nacional? Você acha que falta criatividade?
Barbara: Criatividade é o que não falta; você vê pelos desfiles, têm bastantes coisas diferentes, eu acho que o que falta é a identidade, que não está formalizada como nós vemos em outros países; é uma coisa bem de fora para dentro, não temos uma coisa que surja daqui, mas acho que é um processo.

RT: Qual o estilista que você mais gosta? Que considera inovador?
Barbara: Eu gosto do Ronaldo Fraga, uma pessoa bem acessível que está aqui perto; não preciso ir longe pra falar de um estilista, nós temos que valorizar a prata da casa. Eu gosto bastante das criações dele. É um trabalho diferente, que é autoral; nós vemos o que está expresso, o que ele pensa, o que ele acredita em cada peça; suas coleções contam um pouquinho de uma história, uma vivência. Acho isso bem poético, bem legal.

RT: Qual sua opinião sobre as escolas de moda de Minas Gerais?
Barbara: Nós observamos alguns problemas que as escolas estão tendo; o design é novo, a moda no design também é nova e as escolas para isso também, acontece de terem alguns degraus a ser seguidos, mas estão caminhando pra ser boas faculdades.

RT: No momento, deixam a desejar?
Barbara: As que eu conheço são boas, podem melhorar em alguns aspectos. Todas estão buscando crescer.

RT: Deixe uma sugestão de livro, que talvez tenha marcado sua vida ou seu trabalho.
Barbara: O livro “Fashion Design” aborda tudo pra quem quer estudar a moda; como montar seu portfólio, como trabalhar com isso; é meio que um passo a passo, então para quem quer entender da moda mesmo, acho que é o primeiro livro que você pode pegar e entender a profissão e o que você vai estudar; o que é importante saber.


Editora: Cosac Naify
Autora: SUE JENKYN JONES
Ano: 2005

Nenhum comentário:

Postar um comentário